segunda-feira, 3 de março de 2014

A meia prisão

A gente se acostuma a prender o riso frouxo, a se colocar em segunda opção, a ser ignorado quando precisa ser visto, a colocar em escanteio o que se deseja, a gente se acostuma a não olhar pra si. Aceita qualquer migalha de pão, como se fosse um mendigo de compreensão, a gente troca sempre o sim pelo não. A gente vive uma vida de preses, esperando pela que se pedes, escondendo sentimentos, sonhando sonhos impossíveis para que se deus quiser se realizem.
A gente se acostuma a por a pulga na orelha " eu poderia", "eu deveria", a gente se acostuma a tropeçar com as palavras, a achar tudo sem graça , a gente se acostuma a ser sempre mal entendido ,a estar sempre satisfeito por que acha que fez o que pode e acaba por viver de meias verdades.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma. _Marina Colasanti

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